quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Por vezes

Ele, às vezes, odiava-a.
Odiava como ela sempre parecia achar algo divertido, até mesmo se estivessem discutindo algo sério. Aquele sorriso bobo, estampado em sua face. Como ele sempre ria enquanto falava que não se preocupasse.
Ele odiava o modo como ela andava descansadamente, agindo como se nada importasse no mundo. Como se não desse a mínima atenção. Talvez não desse mesmo, mas ele a conhecia muito bem. Acreditava que havia muito mais coisas que ela sabia, do que, eventualmente, revelaria. E isso causava toda sorte de problemas, uma enorme bagunça, que ele sempre teria que ajudar a consertar. Afinal, ela nunca explicava nada com antecedência, quando preparativos poderiam ter tornado tudo mais simples. Não, quase sempre tudo terminava tomando o caminho mais complicado.
Odiava, também, aquele chapéu e como este sempre encobria e sombreava-lhe o olho, impedindo-no de vê-los. Aqueles olhos sutilmente maliciosos e apaixonantes. Olhos, que o deixavam de respiração suspensa quando se encontravam com os dele.Olhos, que amava ver contemplando-no, em ternura, tarde da noite.
Ele amava sua voz, que, algumas vezes, dizia o que havia de mais inteligente e outras, o de mais exasperante. Ele gostava de, simplesmente, sentar e ouvi-la falar; algumas das historias mais bobas, que inventava, ou as mais saudosas lembranças. Fazendo-no, por vezes, estremecer ao usar aquele tom especialmente reservado para quando estivessem a sós.
Amava a maneira como ela estava sempre ali, esperando por ele. Esperando até que estivessem fora das vistas alheias, para, então, envolvê-lo num abraço estreito e saudoso. Ela sempre o recepcionando, nunca aborrecida ou transtornada demais, por mais longa que houvesse sido o tempo distantes um do outro. Ela, entretanto, pousaria ternamente as mãos em seu rosto e o beijaria suavemente, com todo o significado de “boas vindas”, implícito.
Sim, ele,por vezes, amava-a.

Nenhum comentário: